20061231

uma língua que não entendo é essa sua de praxe, de uma vida estranha sob varais vazios. coisa estranha essa de falar sem ver as palavras saindo, de ver qualquer coisa que não é ouvida... "eu te adoro"; disse. "tenho dislexia"; o outro.

20061220

A névoa


Qual troca de vapores, almas e hálitos. Ímã invertido. Tempos acelerados. Quente e Frio. Uma cena debaixo da chuva. Assim, só a chuva. Ali, sem palavras; só a chuva. Olhares; porque era assim. Entendes? O silêncio: todo aquele silêncio; todo aquele texto. A maquiagem escorrendo sobre a pele, o pescoço marcado, em dó, em clave. Sem pó, poeira. Fios negros até o peito, o plexo, a bacia. Senti os pés dentro de um aquário; cinco, dez peixes que nadam pelo sal úmido. As penas impermeáveis de todos os pássaros, o óleo escorrido, como saliva a procura da garganta, o canto à audição - ao coração em compasso incondicional. Uma gota, nenhuma chama, nenhuma fumaça. E o rosto se lava, o corpo desprendido depois da absorção e do repelimento. Algo, algum, dois. Fossas nasais inundadas, de toda a tosse contida, de todo remédio adquirido. Vitrines a frente dos olhos; quatro, de sons, de suspiros, de pálpebras semicerradas. Ali, soluções pela água que se bebe e pelo ar gelado. Sonhei contigo, fáunulo. Eu não te deixava só. Te acolhia no meu guarda-chuva, me encolhias nos teus braços. Senti o teu pescoço, eras alto, suavas a fáunulo, cheiro de casca de árvore. Teus cachos molhados; já não tinhas os vaga-lumes, tinhas os olhos que brilhavam escuros como mercúrio. Entendes? O experimento do ver; a ação do olhar.