20110131

begônia, a escritora-amante & sylvia, a jaca revolucionária


num dia de verão, ia begônia para seu trabalho. feliz porque a chuva tinha lhe dado uma trégua e ela podia agora simplesmente deslizar pela pista de lama em que se transformara a rua; enraivecida porque o sol bravio, rústico, assanhado e invasivo já lhe esturricava até os pentelhos. ah, se o solo já não estivesse quente! nua, jogar-se-ia num infantil banho barroso.

perto dali, uma árvore frondosa a convidava para um merecido descanso sob a sombra. serelepe, begônia sentou-se sozinha, abriu as pernas e com a terra geladinha, protegida pela árvore, refrescou sua cálida perereca. nesse momento surge o cupido, o acaso, o tesão: ao inclinar a cabeça para cima revirando os olhos, dá com a figura salpicada-verde-reptiliana de sylvia. ah, sylvia! quando te vi, teu corpo, tua pele, teus inúmeros mamilos esverdeados; tu me esperavas rija e suspensa, penduradinha por teu talo corpulento.

o dia delongou-se; a noite dilatou-se.

begônia é amante, suas maiores paixões: escrever, os animais e comer. escreve o que ama e não come os animais. chegando em casa, tomaram juntas um banho gelado. as duas, peladas, fizeram loucuras. begônia descobriu os prazeres da jaca. sylvia, versátil, conheceu a insaciável escritora glutona. tantos mamilos tesos e tantas carnes tenras renderam tantos pratos trincados. sylvia mudou a vida de begônia para sempre.

20110102

Reúnem-se todos os sábados para uma conversa sanguínea, as pulgas Judith, Augusta, Odacir e Mara Rúbia.

Com seus micropelos penteadíssimos para trás, deslizam para o que chamam cozinha, o rabo da cadela. Usam de suas peças bucais, espinhos mínimos para se agarrarem à pele do bicho, cortam o tecido com suas serrinhas e por uma agulha diminuta chupam com gosto o líquido viscoso. São gulososas e grosseiras, comem e cagam enquanto falam. Cavaqueiam fofoqueiras de boca cheia sobre a vida dos outros, daqueles que são uns desgraçados. Riem-se dos amaldiçoados, caçoando de suas vidas lúgubres.

Sugam vorazmente o rubro fluido da cadela que, inquieta, coça e morde o próprio rabo. Mas as pulgas não se afugentam, colam como velcro nos pelos caninos e gargalham bêbadas com os sacolejos aflitos do corpo parasitado. As pulgas excitadas, quase zuretas, gritam asneiras, soluçam e gaguejam todo tipo de delírio.

Me fode, me fode agora! - berra Judith. Cadê o teu cu, Dith?! - pergunta imbecilmente Augusta, tentando meter a gálea no que seria o ânus da amiga. Odacir descontrola-se: vocês são as maiores putas que eu já conheci, suas vacas imundas; vou passar minha merda em vocês todas, suas sapecas! Solfejando, Mara Rúbia gira e gira e gira, dá um pulinho e diz pimpão!

Aparvalhadas e entorpecidas pelo sangue brilhante ingerido, eriçam-se e perdem a aderência, caem tontas, moribundas no chão.

Judith nunca amou.
Augusta só fez reclamar.
Odacir praguejava sem parar.
Mara-Rúbia-foi-com-as-outras.