20111019

o moço e a mosca

Estava o moço espreguiçado debaixo duma árvore comendo melancia. Mordia a polpa encarnada, separava as sementes com a língua e sorvia do líquido rubro. O sumo, não contido em sua suculência, escorria do canto dos lábios em esquerda diagonal ao pescoço, desembocando na saboneteira. Ali formou-se um mínimo e doce lago avermelhado.

Uma mosquinha decidida pousou no ombro do moço, e excitada pelos odores, desceu por sua clavícula. Que benquerença! Beijava com seu canudinho a pele adocicada do moço. Zzp, que gostoso... Zzp, que fresquinho... Zzp, que moço lind.

Num tapa certeiro e viril, o moço matou Clarinha, a mosca que o amara por oito segundos como ninguém jamais o faria.

Desatou a chorar.



se uma mosca pousar
em ti
não a mates
pode ser teu bem-querer

mosca ama merda
e merda é o máximo
que podes ser