20070215

#08

não preciso ver as costuras dos meus dedos para entender o que se passa, pois minhas mãos não tremem o suficiente quanto os meus tornozelos

não sei o que faço que desando tudo
sem voltar ou descaminhar
aborreço os movimentos

pulo em falso sem cair
durante o rodopiar do pingos

são poças de tintas
são desenhos e meus braços
são tremeliques e respirações ao naufragar o que chamo de vontade

20070204

ela cozinha muito bem

senta-se à mesa e então percebe que sobra um prato
o lugar a sua frente
talheres sem mãos
guardanapo limpo
copo em vidro e só

dança descompassada
a música a dois e chora a um
e dois olhos
para três beijos: dorso da mão direita, ombro e joelho esquerdos
não respira
não respira
não
ela dança

retorna à mesa
comida
boa] cebola fina
cortada
ela nem chora, porque sabe
pouco alho
muito sal e pimenta
não engorda
nada sobra, mas demais


cozinha e
quase chora [a cebola
e dança as mãos no fio
faca
cega d'água, come
sem respirar
ins-; ex-; as-
louca desconjugada por pretérito-mais-que-perfeito

mas sempre faz a mais