20110102

Reúnem-se todos os sábados para uma conversa sanguínea, as pulgas Judith, Augusta, Odacir e Mara Rúbia.

Com seus micropelos penteadíssimos para trás, deslizam para o que chamam cozinha, o rabo da cadela. Usam de suas peças bucais, espinhos mínimos para se agarrarem à pele do bicho, cortam o tecido com suas serrinhas e por uma agulha diminuta chupam com gosto o líquido viscoso. São gulososas e grosseiras, comem e cagam enquanto falam. Cavaqueiam fofoqueiras de boca cheia sobre a vida dos outros, daqueles que são uns desgraçados. Riem-se dos amaldiçoados, caçoando de suas vidas lúgubres.

Sugam vorazmente o rubro fluido da cadela que, inquieta, coça e morde o próprio rabo. Mas as pulgas não se afugentam, colam como velcro nos pelos caninos e gargalham bêbadas com os sacolejos aflitos do corpo parasitado. As pulgas excitadas, quase zuretas, gritam asneiras, soluçam e gaguejam todo tipo de delírio.

Me fode, me fode agora! - berra Judith. Cadê o teu cu, Dith?! - pergunta imbecilmente Augusta, tentando meter a gálea no que seria o ânus da amiga. Odacir descontrola-se: vocês são as maiores putas que eu já conheci, suas vacas imundas; vou passar minha merda em vocês todas, suas sapecas! Solfejando, Mara Rúbia gira e gira e gira, dá um pulinho e diz pimpão!

Aparvalhadas e entorpecidas pelo sangue brilhante ingerido, eriçam-se e perdem a aderência, caem tontas, moribundas no chão.

Judith nunca amou.
Augusta só fez reclamar.
Odacir praguejava sem parar.
Mara-Rúbia-foi-com-as-outras.

1 comentário:

nestor jr. disse...

cada vez gosto mais. escreve mais, mais...